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sábado, 6 de outubro de 2012

Novo jogo, novas regras.


Um fenômeno só passa a existir depois que ele é descoberto e nomeado. Com essa afirmação inicio dois questionamentos: Primeiramente, se um fenômeno só existe após ser descoberto, então seus efeitos também teriam que ser considerados inexistentes? É possível dizer que o fenômeno já existe e está oculto, já que seus efeitos ocorrem mesmo sem a tomada de conhecimento de qualquer pessoa sobre ele. A descoberta de algo pode criar um fenômeno diferenciado ou ele já existe e nós que não lhe damos oportunidade de acontecer? A probabilidade da primeira opção ser a correta é maior, se o enfoque for o mesmo da afirmação que abre este texto.

Na Escola contemporânea foi constatado que o aluno que a frequenta não é o mesmo tipo de aluno que frequentava a Escola de alguns anos atrás, entre as décadas de 30 e 70. Mas o que mudou esse aluno? Foram só os perfis sociais, as demandas emotivas e intelectuais e a tecnologia que criou novas formas de linguagem, tudo isso ocasionando uma dissonância com a linguagem arcaica da instituição? Houve mais que isso, houve a criação de uma nova relação entre os que ensinam e aqueles que aprendem: a reformulação das relações de poder.

Essa reestruturação se deu após a inserção de uma nova informação no cotidiano - através de todas as mídias e veículos capazes de transmitir informações (música, TV, rádio, imprensa escrita, etc.) - que alterou inclusive a moral que conduz o senso de justiça. Ao se criar valores como a liberdade, a integridade física e psicológica, a intimidade, entre outros que regem nossos julgamentos de certo e errado, se tirou a legitimidade da punição e da vigilância utilizadas para disciplinar aqueles que não são julgados culpados de nenhum crime, os alunos. Com a desconstrução dessa prática como algo necessário e benéfico, criou-se então um novo fenômeno, a liberdade do aluno, que fica exposto na frase “Hey teacher, leave our kids alone” na música Another brick in the wall da banda de rock Pink Floyd.

O aluno agora sabe que pode insurgir contra a relação de poder pré-estabelecida que a Escola detém para disciplinarizá-lo e o faz de forma inconsciente, inclusive. Com essa alteração dos valores e esta informação correndo livremente no pensamento coletivo, as identidades dos sujeitos que habitam a época contemporânea, principalmente aqueles que nasceram após essa modificação, se constituem de forma a não aceitar regras diferenciadas àquelas que regem as relações de poder correntes. Salvo variações de níveis decorrentes das histórias e vivências particulares de cada aluno, esse fenômeno aparece intrínseco desde o ensino infantil.

Resta então observar e descobrir, nesse novo cenário, como se disciplinariza o aluno para que ele seja capaz de produzir e assimilar os conteúdos que a escola tenta disponibilizar, sem entrar na contramão do fluxo de acordos subliminares que estão tecendo as novas relações educacionais. E agora que a punição não é mais tão efetiva e a vigilância se transforma em uma força repressora de sujeitos que almejam a liberdade prometida, o desafio de ensinar e educar pede novas táticas que estão sendo estabelecidas. Mas para isso a Escola necessita admitir que precisa mudar e que não é apenas do quadro negro para a tela do computador, mas das paredes lisas e de cores frias para estruturas físicas e interpessoais que possibilitem uma autonomia direcionada desse aluno que possui voz ativa no próprio desenvolvimento e que foge do menor sinal de prisão e repressão.

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